Oi sou a Marisa, nasci na zona rural de batatais hoje tenho 42 anos , 2 filhos, já planteis arvores e tenho muita coisa p contar sobre a vida que as pessoas não expõem, eu quero falar... 

Eu fui uma criança curiosa, exótica, daquelas que parecem meio deslocadas do mundo. Nascida em uma família católica, desde cedo achei natural tratar espiritualidade como matéria de estudo. Fiz catequese enquanto, paralelamente, estudava com as Testemunhas de Jeová — não por fé, mas por sede de saber. Desde pequena, entendi que ter informação facilitava a vida.

A vida seguiu dura, como é pra quem nasce em contextos socioeconômicos limitados. Saí da roça para a cidade aos 7 anos, aprendi a ler sozinha (minha mãe conta, eu nem lembro) e comecei a trabalhar aos 8. Estudar nunca foi prioridade na minha família, mas sempre foi para mim.

Sempre dei meus pulos. Entre um emprego e outro, e até durante eles, fiz de tudo um pouco. Me divertia desmontando e montando coisas, sempre com uma mente curiosa, inquieta, questionadora. Me meti com artesanato, trabalhos manuais e tudo que envolvia criar com as mãos.

Teve também uma fase intensa e deliciosa na dança. Foram mais de 15 anos dançando, chegando ao nível semiprofissional. Dei aulas, participei de grupos, coreografias e festivais. Só não fui além porque não quis me enveredar pelo caminho burocrático do DRT — mas paixão e entrega não me faltaram.

Profissionalmente, passei por muitos lugares. Comecei em subempregos, fiz técnico em Administração, trabalhei no setor de compras de uma microrede de farmácias, enquanto conciliava a vida de mãe solo de um filho pequeno. Logo migrei para a área de tecnologia — fiz curso de manutenção de computadores, depois me formei em Redes de Computadores e trabalhei 10 anos na TI, onde me senti, pela primeira vez, realizada profissionalmente.

Mas a vida, que nunca segue roteiro, virou tudo de cabeça pra baixo. Meu filho Iago, que já era diabético, enfrentou complicações gravíssimas. Larguei a TI para ser mãe em tempo integral. Quando veio o segundo filho, o Leo, também com desafios importantes de saúde, minha vida se ressignificou de vez.

Foi nesse mergulho que conheci o universo das terapias integrativas. Fiz técnico em Massoterapia no Senac (sim, sou fã do Senac, risos). Por alguns anos, atendi em consultório. Paralelamente, busquei o que sempre me sustentou: estudar, investigar, entender como funcionamos por dentro.

O Tarot cruzou meu caminho de forma curiosa. Aceitei o convite de uma amiga pra fazer um curso sem a menor intenção de atender. Era, mais uma vez, meu velho movimento: entender, estudar, buscar significados. Só que o Tarot me atravessou profundamente. Me deu repertório para dar nome ao que eu sentia. Deixou o mundo menos confuso.

Me tornei taróloga, mas precisei brigar comigo mesma por um tempo. Tinha preconceito com o meio esotérico — afinal, sempre fui uma mente lógica, racional, questionadora. Mas não dava mais pra ignorar: o Tarot não só fazia sentido, como fazia sentido pra mim.

Então a vida virou outra vez. Sofri um acidente doméstico em 2023 que me fez perder os movimentos do polegar. Adeus massoterapia, adeus consultório físico. Na mesma época, veio o diagnóstico de autismo do Leo. Passei dois anos fora do mercado, cuidando de mim, dele e das nossas reinvenções.

Foi nesse tempo que, depois de uma longa bateria de avaliações, recebi meu próprio laudo: não, eu nunca tive depressão crônica, nem TOC, nem bipolaridade — o que eu carregava era Altas Habilidades/Superdotação, com traços de autismo (o chamado BAP — Autismo de Alto Desempenho). Descobrir isso foi uma chave que destravou meu entendimento sobre mim mesma, sobre meu funcionamento, minhas crises, minhas potências e meus limites.

Fez todo sentido. Sempre fui uma criança que pensava diferente, aprendia diferente, via o mundo de um jeito que ninguém explicava. Sempre me senti deslocada — não porque eu era “errada”, mas porque o mundo não está preparado para quem funciona fora da curva.

Essa descoberta também selou meu caminho profissional. Parei de tentar caber em moldes. Hoje, assumo sem culpa, sem vergonha e sem contradição: sou taróloga, sou racional, sou espiritualizada, sou analítica, sou sensível, sou intensa. Não existe uma coisa sem a outra.

Saiam do  automático, entenderem seus ciclos, a fazecam escolhas a partir de si mesmas — não de padrões, de fórmulas ou de expectativas alheias. Eu acredito profundamente que o autoconhecimento muda vidas. Mudou a minha.